sábado, 9 de julho de 2011

Professora Andrea Ramos: Sobre o teleférico do Complexo do Alemão     São 1...

Professora Andrea Ramos: Sobre o teleférico do Complexo do Alemão
São 1...
: "Sobre o teleférico do Complexo do Alemão São 150 gôndolas que param em seis estações, interligando as comunidades do Complexo do Alemão..."
Sobre o teleférico do Complexo do Alemão

    São 150 gôndolas que param em seis estações, interligando as comunidades do Complexo do Alemão com a estação de trens de Bonsucesso. Ou seja, ligam o morro ao asfalto. O objetivo declarado dessa “maravilha” é facilitar o ir e vir dos moradores das comunidades, evitando a demora em seu percurso do asfalto até suas casas no alto do morro ou em um ponto de difícil acesso a ônibus e carros.
   Esta semana foi reinaugurado esse teleférico, com a ilustre presença da Presidenta Dilma e seus correligionários.  O novo meio de transporte passou então a funcionar atendendo a população local gratuitamente e posteriormente custará um real.
   O que chama atenção e pede uma análise crítica é o fato de o teleférico estar sendo divulgado, subliminarmente, como a grande sacada contra a pobreza (assim como foi feito com a entrada das polícias e forças armadas nas mesmas comunidades, no final do ano passado). O teleférico seria a grande ação político-social deste governo para resolver as mazelas que acometem os moradores das favelas há muitos e muitos anos.
    A partir da entrada das forças do estado e do teleférico os problemas e ações foram redimensionados. As ações do estado se tornaram positivamente grandiosas, enquanto que os problemas de sempre dos moradores das favelas começaram a perder a importância.
   Se há polícia, exército e teleférico no local (em breve haverá TV à cabo e internet banda-larga legalizadas, banco para empréstimos a juros, e sei lá mais o quê), não importa se os barracos tortos de madeira ou alvenaria de baixa qualidade, insistem em se proliferar verticalmente (pois não há mais espaço no solo das encostas); se os becos, vielas labirínticas, emaranhados de fios em postes improvisados, canos aparentes e rachados e vazamentos de esgoto continuam lá, pertinho do percurso das gôndolas; se seus moradores continuam desempregados, subempregados e estigmatizados.
   Lá do alto, de dentro das gôndolas, é tudo uma beleza, “ninguém chora, não há tristeza, ninguém sente dissabor" (cito Cartola, mas bem sei que estes versos nada têm de alienados). Sendo assim, podem ir também, turistas! Observando do alto, mas bem do alto, talvez vocês nem percebam a pobreza, talvez só percebam sorrisos, o colorido das roupas nos pequenos varais, o entrosamento social de vizinhos cujas casas são quase umas dentro das outras, a criatividade das crianças em suas brincadeiras de rua (beco), enquanto alguns adultos tomam uma cerveja ou um quente numa birosca que em breve, diz o estado, vai ter que ser uma micro-empresa.
   Turistas sairão dessa “viagem antropológica” com a percepção de que aquelas pessoas conscientemente escolheram viver assim; que aquilo sim é felicidade (para os favelados, obviamente). É um panorama da pobreza que não se revolta, que se acomoda e reacomoda para o teleférico passar. Morar em encostas não é problema; ser pobre ou miserável não é problema; o problema era ter que subir e descer o morro para chegar cedo ao trabalho, na fila do posto médico, na escola, na fila da vaga para um trabalho qualquer... Sendo assim, não há mais problemas.
   Nas propagandas dos feitos do governo, pessoas são escolhidas a dedo para afirmar que, enfim, com a polícia e com o teleférico, chegou a dignidade; agora sim têm paz e felicidade, afinal, rapidinho poderão ir à estação de Bonsucesso ou à outra comunidade do Complexo. O que mais podem querer da vida?
   Então, a finalidade político-ideológica da ação do estado se cumpre: manter o favelado dentro da favela, satisfeito – e com o título eleitoral a postos – com os que levaram o que chamam de paz e progresso para dentro das comunidades; e a elite com seu direito natural à propriedade, podendo, de vez em quando, fazer seu turismo alternativo para observar os nativos em seu habitat natural.
Andrea Ramos.

terça-feira, 5 de julho de 2011

David Hume e a causalidade
(Segundo a Investigação sobre o Entendimento)
Não temos necessidade de temer que esta filosofia, na medida em que tenta limitar nossas pesquisas à vida corrente, nunca destrua os raciocínios de vida corrente e leve suas dúvidas tão longe a ponto de destruir toda ação como toda especulação. A natureza sempre manterá seus direitos e, no fim, prevalecerá sobre os raciocínios abstratos. Mesmo que concluamos, por exemplo, que em todos os raciocínios tirados da experiência o espírito dá um passo que não é sustentado por nenhum progresso do entendimento, não há nenhum perigo que esses raciocínios, dos quais depende quase todo conhecimento, sejam afetados por tal descoberta. Se o espírito não está obrigado a dar esse passo por meio de um argumento, ele deve ser conduzido por outro princípio igual em peso e em autoridade; tal princípio conservará sua influência por tanto tempo que a natureza humana permanecerá a mesma. A natureza desse princípio bem merece que nos entreguemos ao esforço de investigar sobre ela.
Suponha-se que um homem, dotado das mais poderosas faculdades de razão e de reflexão, seja subitamente transportado por este mundo; certamente ele observaria de imediato uma contínua sucessão de objetos, um acontecimento seguir-se a outro; mas seria incapaz de descobrir outra coisa. De saída, ele seria incapaz, por meio de algum raciocínio, de atingir a idéia de causa e efeito, pois os poderes particulares que concretizam todas as operações naturais nunca se apresentam aos sentidos; e não é razoável concluir, unicamente porque um acontecimento precede outro em um único caso, que um seja a causa e o outro o efeito. Sua formação pode ser arbitrária e acidental. Não existe razão para se inferir a existência de um pela aparição do outro. Numa palavra, aquele homem, sem mais experiência, nunca faria conjecturas ou raciocínios sobre qualquer questão de fato; só estaria certo do que está imediatamente presente em sua memória e em seus sentidos.
Suponha-se ainda que este homem tenha adquirido mais experiência e que tenha vivido por muito tempo no mundo para que tenha observado a conjugação constante de objetos e de acontecimentos familiares; que resulta dessa experiência? Ele imediatamente infere a existência de um dos objetos pela aparição do outro. Todavia, ele não adquiriu, com toda sua experiência, nenhuma idéia, nenhum conhecimento do poder oculto pelo qual um dos objetos produz o outro; e não é por nenhum progresso de raciocínio que ele é obrigado a chegar a esta conclusão. Mas ele sempre se acha determinado a tirá-la; e, mesmo que o convencêssemos que seu entendimento de modo algum participa na operação, ele continuaria a ter o mesmo pensamento. Existe um outro princípio que o determina a estabelecer tal conclusão.
Esse princípio é o costume, o hábito. Pois, todas as vezes que a repetição de uma operação ou de um ato particular produz uma tendência no sentido de renovar o mesmo ato ou a mesma operação sem o impulso de qualquer raciocínio ou progresso do entendimento, dizemos sempre que essa tendência é o efeito do costume. Ao empregar esta palavra não pretendemos ter dado razão última de tal tendência. Apenas designamos um princípio de natureza humana, universalmente reconhecido e bem conhecido por seus efeitos.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

 Alegoria da Caverna, segundo Maurício de Souza
A teoria do conhecimento de Platão



As imagens de Locke sobre a mente: "tábula rasa" ou "papel em branco". As idéias são derivadas das sensações; nada há na mente antes da experiência sensível.

Charge sobre o Cogito de René Descartes
"Penso, logo existo".


Quem sou eu

Minha foto
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Professora de filosofia e sociologia, graduada e licenciada pela UFRJ; fiz especialização em Filosofia Moderna e Contemporânea na UERJ e sigo estudando tudo o que me interessa e, infelizmente, trabalhando (trabalho-tortura)mais do que gostaria.