segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A ciência é neutra?

Esse texto foi elaborado como uma das tarefas do curso do CECIERJ, que nos levou a questionar a neutralidade científica. Posteriormente comparamos com o texto de François Jacob que sugere que se a ciência não é neutra, tampouco as outras formas de saber e intervir no mundo o são.
Mito do cientificismo e da neutralidade científica



A imagem da bomba atômica retrata como o conhecimento pode estar a serviço das ideologias políticas, que não têm o conhecimento como um valor em si.
O conhecimento do átomo, que poderia representar mais uma conquista da razão a serviço da própria humanidade, mais um tijolo na construção de um entendimento sobre a origem e o funcionamento da realidade, se desdobra em destruição que beneficia um grupo em particular.
A ciência, assim como qualquer artifício humano, está a serviço de interesses. Nesse caso não é o interesse dos cientistas e nem da maioria das pessoas do mundo, é o interesse econômico e político de um grupo minoritário, mas que, detendo o capital e as estruturas do macro poder, usa o conhecimento científico para perpetuar esse mesmo poder.
A ciência nasceu afirmando a superação de um saber pouco ou nada rigoroso e afirmando sua isenção em relação aos interesses ideológicos e subjetivos, se colocando acima da sociedade em que o próprio cientista está inserido.
O conhecimento valeria por si mesmo e ao cientista não caberia refletir sobre seu próprio ofício e menos ainda julgar os possíveis usos que a sociedade poderia fazer dos produtos de seu trabalho.
Com as recentes produções científicas, as polêmicas ultrapassam o âmbito da comunidade científica e suscitam debates interdisciplinares, e envolvem a sociedade toda. Nesses momentos as questões sobre os valores morais, sobre a relatividade ou universalidade desses valores, são colocadas.
Sabemos que as pesquisas científicas não são autônomas; os projetos são aceitos e financiados se vão ao encontro dos interesses de alguns grupos. Não importa a população, importa o lucro.
O conceito de ciência é construído na Idade Moderna. Por mais que consigamos perceber que questionamentos sobre o que é a realidade, como a natureza funciona, etc. já tivessem sido feitos anteriormente, e podemos voltar aos gregos, ciência mesmo não havia antes.
As ciências vieram afirmando a necessidade da objetividade e da neutralidade, concluindo que outros modos de pensar e agir são impregnados de interesses pessoais, conclusões subjetivas e tendenciosas. Mas as ciências também não conseguem romper com os valores da sociedade, visto que são esses valores que as criaram e as fomentam.
Por ter desbancado saberes mítico-religiosos, pelo seu ideal de objetividade e rigor, por ter se dedicado a esclarecer inteligivelmente diversos setores da realidade, as ciências passaram a ser reconhecidas como o ápice da razão. É dela a palavra final sobre todos os assuntos e vemos diversos saberes querendo ser considerados ciências, pois ciência tem credibilidade. Auguste Comte foi o responsável pelo aprofundamento dessa idéia, afirmando que ciência significa o progresso da razão.
Como vimos na imagem da bomba, o progresso da razão nem sempre está a serviço de todos os seres racionais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem sou eu

Minha foto
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Professora de filosofia e sociologia, graduada e licenciada pela UFRJ; fiz especialização em Filosofia Moderna e Contemporânea na UERJ e sigo estudando tudo o que me interessa e, infelizmente, trabalhando (trabalho-tortura)mais do que gostaria.