sexta-feira, 29 de julho de 2011

Ética em Kant - o Imperativo Categórico

Alunos do Terceiro ano de filosofia do ensino Médio.
Vamos analisar e debater sobre as questões colocadas pelo texto abaixo.
Nosso terceiro bimestre é sobre moral, ética e política, além de outros temas que veremos depois.
Pense com Kant: Você aprovaria que as suas atitudes se tornassem lei universal, ou seja, fossem legitimamente praticadas por todos?
Kant adverte: Age de modo que a máxima de tua ação possa transformar-se em lei universal. Se você não concorda que o mandamento da sua ação possa se transformar em lei universal, então sua ação não foi uma ação moral (embora possa ter sido segundo o dever, a lei que te coage).


O imperativo categórico: três casos concretos
Immanuel Kant

Problema central: Em que consiste a lei moral? Como determinar o valor ético do comportamento?
Tese central: A doutrina do imperativo categórico, tese importante em Kant, afirma que um comportamento só pode ser considerado moral quando é universalizável. Existem comportamentos que a consciência, ao universalizar a vontade individual,pode reconhecer como certo.
Se eu penso em um imperativo hipotético não sei o que acontecerá até que ele se apresente a mim. Se, ao contrário, penso em um imperativo categórico sei imediatamente o que convém.
De fato, o imperativo, além da lei, não contém senão a necessidade, em princípio, de ser conforme a tal lei, sem que a lei se submeta a nenhuma condição.
Conseqüentemente, o que resta não é senão a universalidade de uma lei em geral, à qual a máxima da ação deve se conformar, e é somente esta conformidade que o imperativo apresenta propriamente como necessidade ...
Primeiro caso
Um homem, que uma série de males acabou por leva-lo ao desespero, sente um grande desprazer pela vida, mas, todavia, ainda está de posse de sua razão para poder perguntar-se se não haveria uma violação do dever para consigo mesmo ao tirar a própria vida.
Ele procura, então, saber se a máxima da sua ação poderia tornar-se uma lei universal. A sua máxima seria esta: por amor a mim mesmo, eu estabeleço o princípio de encurtar a própria vida a partir do momento em que, prolongando-a, tenho mais males a temer do que satisfações a esperar. A questão agora é somente saber se esse princípio do amor a si poderia tornar-se uma lei universal.
Porém, logo percebe que uma natureza cuja lei fosse destruir a própria vida, apoiando-se justamente naquele sentido cuja função especial é iniciar o desenvolvimento da vida, estaria em contradição consigo mesma e não poderia subsistir.
Conseqüentemente, essa máxima não poderia absolutamente ocupar o lugar de uma lei universal, portanto, contrária ao princípio supremo do dever.
Segundo caso
Um outro homem é levado pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Ele sabe que não poderá devolvê-lo, mas sabe também que nada lhe será emprestado, se ele não se empenhar seriamente em devolvê-lo na época determinada. Ele tem vontade de fazer esta promessa, mas tem a consciência suficiente para se perguntar: não é proibido e contrário ao dever se livrar da necessidade deste modo?
Supondo, porém, que ele tomasse essa decisão, a máxima da ação significaria: quando eu acredito precisar de dinheiro logo peço emprestado, prometendo devolvê-lo, mesmo sabendo que não farei nunca. Ora, é certamente possível que esse princípio do amor a mim mesmo, ou da utilidade própria se conecte com todo o meu bem-estar futuro. Mas no momento isto é justo? Transformo, portanto, este problema em caráter universal. O que aconteceria se minha máxima se tornar-se uma lei universal?
Ora, ela nunca poderia valer como lei universal... Porque admitir como lei universal que todo homem que pensa se encontrar em necessidade possa prometer tudo o que lhe passa pela cabeça com o propósito de não cumprir  tornaria impossível qualquer promessa. Ninguém mais acreditaria mais naquilo que lhe é prometido.
Terceiro caso
Finalmente, um homem que é bem sucedido em tudo, vendo que os outros (a quem poderia muito bem ajudar) estão vivendo com grandes dificuldades, assim raciocina: O que me importa? Que cada um seja feliz com o que o Céu manda, ou seja, feliz por si mesmo... não estou disposto a contribuir para o seu bem-estar ou ajudá-lo na necessidade. Ora, se um tal modo de pensar se tornasse uma lei universal, a espécie humana poderia sem dúvida subsistir em melhores condições do que quando todos falam continuamente de simpatia e benevolência, e até se empenham em praticá-las eventualmente, mas depois, ao contrário, assim que possível, os prejudicando de alguma outra maneira. Mas, apesar de ser possível que subsista uma lei universal conforme esta máxima, é por outro lado impossível querer que tal princípio valha universalmente como lei, porque a intenção de tomar esse partido contradiria a si mesma, uma vez que podem existir casos em que esse homem possa precisar do amor e da simpatia de outrem, então ele mesmo seria privado de esperar obter a assistência desejada, por força da mesma lei instituída por sua vontade.

Esses são somente alguns dos numerosos deveres reais, ou ao menos assim por nós considerados, cuja derivação do único princípio que expusemos salta evidentemente aos olhos. É preciso querer que aquilo que é a máxima de nossa ação se torne lei universal: este é o cânone que permite a avaliação moral da nossa ação em geral. (KANT, 1980).

KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980
NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de Filosofia. São Paulo: Editora Globo, 2005

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Quem sou eu

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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Professora de filosofia e sociologia, graduada e licenciada pela UFRJ; fiz especialização em Filosofia Moderna e Contemporânea na UERJ e sigo estudando tudo o que me interessa e, infelizmente, trabalhando (trabalho-tortura)mais do que gostaria.